corpo o que desaparece.

lacuna – a morte, o desaparecimento, o espaço vazio, esvaziado, o que falta.

traço – a imagem, o nome, a pedra, a placa, o cadáver, as cinzas, as roupas, os objetos, a sepultura, as fotografias, a marca, o que resta.

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Esse site, concebido como um atlas-arquivo de fotografias autorais produzidas durante minhas pesquisas de campo, é um dos resultados do meu projeto de pós-doutorado em Antropologia na Universidade de São Paulo (USP), supervisionado pela Prof.ª Sylvia Caiuby Novaes e intitulado O corpo, a lacuna, o traço: a invenção de uma presença em monumentos e memoriais aos mortos, com estágio na Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales (EHESS, Paris, França) e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP, processos nº 2015/25039-2 e nº 2017/18764-8), entre os anos de 2016 e 2020.

A pesquisa aqui apresentada como um atlas-arquivo de imagens teve como eixo um estudo sobre monumentos e memoriais aos mortos, desde aqueles produzidos em caráter oficial e político, como os relacionados a guerras e genocídios, até os mais íntimos e pessoais, mas também partilhados de forma coletiva, como as sepulturas particulares, as pequenas cruzes nas estradas, as homenagens e altares efêmeros criados espontaneamente pela sociedade civil depois de um evento trágico. Através de reflexões sobre a imagem, o corpo, a memória e a morte, e também sobre aspectos relacionados aos espaços públicos­, compreendo o memorial como o novo corpo do morto, a partir de um possível efeito de presença, já que o monumento localiza o desaparecido no espaço físico e material de uma comunidade. Esses efeitos de presença do morto são aqui pensados como a ideia de uma presentificação, gerada a partir do caráter visível, tangível e/ou legível dos monumentos e memoriais, que produz, para o vivo, a ideia de uma restituição do corpo perdido. Trata-se, portanto, de uma reflexão sobre o que a morte oculta e transforma em traços, vestígios de uma passagem do corpo, tomando como perspectiva central a construção e o uso de monumentos e memorais nos espaços partilhados coletivamente. Desde sempre, a humanidade lida com o desaparecimento de um corpo produzindo rituais, imagens e monumentos, rastros visíveis e tangíveis constituídos por uma nova materialidade, que desejam, sobretudo, evocar o efeito de alguma presença do morto.

O desejo de fazer esse atlas-arquivo de imagens é o de poder compartilhar a materialidade visual da minha pesquisa ao longo dos últimos 7 anos (2013-2020) - iniciada no doutorado e aprofundada no pós-doutorado, quando eu tive então todo o apoio institucional e financeiro para fazer os trabalhos de campo e me dedicar integralmente a essa busca. Chegar ao final de 7 anos de pesquisa e organizar, pela primeira vez, as imagens tem sido um encontro poderoso com tudo aquilo que me constituiu, me perturbou, me convocou. Dar uma ordem ao que resta - as imagens - é criar sentido, inventar narrativas. Algumas imagens evidenciam o resto, o rastro, o traço. Outras evidenciam o apagamento. O que vemos no mundo?

AGRADECIMENTO

Pelos 4 anos do pós-doutorado, por todo o apoio prático e emocional e pela amizade que continua, agradeço imensamente à minha supervisora Sylvia Caiuby Novaes, que me recebeu afetivamente nesse lugar estrangeiro, tornando-o potente e familiar.

SITE - MODO DE USAR

As fotografias podem ser visualizadas como um longo rolo de imagens que se avizinham, evocando umas às outras e ampliando a narrativa para além daquela que cada uma conta. As imagens coletadas ao longo de 7 anos, em diversos lugares do mundo, agora se encontram, inventam um novo mapa dos mortos e dos vivos nos espaços coletivos. Cada fotografia pode também ser acessada individualmente, com sua respectiva legenda. O site é melhor visualizado na versão desktop, no computador - nesse caso, é possível ver as legendas de cada uma das imagens quando elas se expandem, o que não acontece no celular.

USO DAS IMAGENS

Autorizo a reprodução das imagens desde que citadas a autoria e a fonte.

JUNQUEIRA DOS SANTOS, Carolina. CORPO, LACUNA, TRAÇO, 2020. Disponível em: <https://corpo-lacuna.squarespace.com/>.