corpo, lacuna, traço

CAROLINA JUNQUEIRA DOS SANTOS
(Belo Horizonte, 1980)

Em seu pequeno texto “Jovens pesquisadores”, Roland Barthes dirá que a interdisciplinaridade, mais do que reunir e confrontar disciplinas já construídas, “consiste em criar um objeto novo que não pertença a ninguém” (BARTHES, O rumor da língua, p. 102). Talvez a isso possamos também atribuir a noção de indisciplinar, aquilo que escapa, que faz corpo com o mundo em seu estado sempre cambiante. Minha pesquisa em arte e imagem me levou à antropologia, da qual sou e permaneço estrangeira. Entretanto, tenho me descoberto como pesquisadora justamente no roçar das margens, das fronteiras, dos limites que se apagam para criar um novo objeto, reafirmando uma busca que tem como medida o meu próprio corpo. Há anos empreendo uma busca – busca que guarda uma pergunta: o que resta? Procuro os restos dos mortos na paisagem. Cidades, campos, cemitérios, florestas. A pesquisa que experimento me lança às viagens, aos percursos em mapas, tempos, espaços, aos traços ainda presentes de corpos já desaparecidos. Sou doutora e mestre em Artes (UFMG) e pós-doutora em Antropologia (USP), um duplo território movediço que moldou tanto a minha forma de lidar com o pensamento quanto com as imagens, elas que são o eixo da minha busca. Foi a partir delas que adentrei o campo das representações, das formas de presença e dos mortos, sobretudo na relação que os vivos estabelecem com aquilo que desaparece, as práticas de luto e suas construções simbólicas. Partindo, no doutorado, de fotografias de família em contexto de luto, adentrei, na pesquisa pós-doutoral, um terreno menos íntimo e privado para dar visibilidade às práticas de luto coletivo, seja ele construído com extrema visibilidade em algumas narrativas, ou violentamente apagado em outras.


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